Voe de asa delta no Rio de Janeiro com o Ruy Marra, Bi Campeão Brasileiro de Voo Livre. Contato WhatsApp +55 21 99982-5703.

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Paola Oliveira e Angêlica

Paola Oliveira e Angêlica









































































































Aposentada de 84 anos voa de asa-delta para superar limites
"Foi uma confusão desgraçada", disse ela, depois de saltar da Pedra Bonita, no Rio de Janeiro.
ISABELA ASSUMPÇÃO    Rio de Janeiro  Globo Reporter
 Que sabor tem o medo: amargo ou doce? Talvez, os dois. Porque medo e prazer podem ter uma relação muito íntima. Não será essa a motivação dos apaixonados pelo perigo? 
Uma pista de voo livre no Rio de Janeiro tem exatos oito metros. Depois, um abismo de 520 metros de altura. Lá embaixo, fica a Praia do Pepino. Quem tem medo de altura provavelmente não chega nem no início da pista. Mas muita gente desafia esse medo para viver a emoção de fazer um voo.
A queda, a vertigem, a superação dos limites e um grande bem-estar. Aos 84 anos, a aposentada Tereza Lima também foi seduzida pelo desafio. Portuguesa de nascimento e brasileira de coração, ela chegou de Goiás, onde mora, para experimentar essa emoção.
"Eu não sei o que é medo", garante. "Não vou contar essa aventura para ninguém. Para mim já chega. É uma satisfação pessoal, vontade de ultrapassar limites."
Solteira, independente, ela faz trabalhos voluntários mundo afora. Sempre foi ousada. Quando criança, tinha medo de ir ao jardim de casa à noite. "Eu dizia que não gostava de escuro, mas justamente por isso eu ia, para enfrentar", lembra.
Com a mesma determinação, ela sobe até o topo da Pedra Bonita, na Floresta da Tijuca, no Rio. Uma paisagem deslumbrante, com um bando de saguis e uma grande movimentação. É de lá que as asas-delta e os parapentes decolam.
Em um gesto de carinho, a admiração do instrutor veterano Ruy Marra. "Ela me ligou de Alto Paraíso e falou que queria ir para o Rio de Janeiro superar seus medos", conta Ruy, que abandonou uma carreira como advogado para se tornar o bicampeão brasileiro de voo livre. Já voou com mais de 20 mil pessoas, mas guarda um segredo: "Eu tinha muito medo".
O treinamento que levaria um mês demorou um ano. Ruy venceu. Agora, se o tempo é bom e o vento ajuda, ele não falta. Com uma câmera acoplada no capacete, o instrutor de voo duplo mostra o espetáculo a que assiste.
Mas a primeira vez sempre assusta. O advogado Frank Moraes voou em poucos minutos. "Agora estou começando a ficar um pouco nervoso, mas nada que impeça o voo", contou, antes de saltar.
Tensão, frio na barriga e uma sensação de alívio, de prazer. Há uma explicação científica para todas essas sensações. No cérebro, as amídalas recebem o sinal de perigo. Mandam aviso ao hipotálamo, que controla o metabolismo. Ele dispara a liberação de hormônios: adrenalina, endorfina, dopamina e cortisol. O corpo fica pronto para reagir à ameaça. Depois, vem o bem-estar. Durante o estresse, o cérebro também produz opióides, substâncias que trazem calma. Assim como acontece com as drogas, essa sensação pode viciar.
"Aquilo que está em jogo no medo, que tem a ver com essa perda do controle, com a invasão por sensações desesperadoras, é tão assustador – mas ao mesmo tempo tão fascinante – que chegar perto disso não deixa de ser uma tentativa de se apropriar disso", explica o psiquiatra Mário Eduardo Costa Pereira, da Universidade de Campinas (Unicamp).
Chegou a hora de dona Tereza decolar. Ela se preparou. Estava pronta, firme. Depois da corrida na rampa, lá foram eles. Em pleno voo, a expressão de felicidade. E um espetáculo inesperado: uma baleia e seu filhote nadando perto da praia. Um presente extra para essa senhora tão valente. No fim, pouso perfeito e a vibração de dona Tereza. "Não sei o que senti. Foi uma confusão desgraçada. Apanhei um medo quando arranquei. Depois, foi maravilhoso. Valeu a pena", afirma.
Fim da aventura, mas não dos desafios de dona Tereza. Ela já está preparando o próximo: vai às montanhas do Nepal.